Loomio
Mon 24 Apr 2017 2:38PM

O que diferencia a prática da CSA de um grupo de compras?

SO Samantha Orui Public Seen by 377

** Resposta redigida pelas pessoas que se reuniram no encontro realizado em 04 de setembro de 2016, para ser incluída na sessão 'FAQ' no site www.csasp.info:**

1) Qual a diferença da CSA para um grupo de compras?
A CSA apoia a médio e longo prazo a atividade dos agricultores que fornecem os alimentos e estabelecem com eles a proposta de compartilhar lucros e prejuízos. Normalmente, um grupo de compras reúne pessoas que se associam pontualmente para a compra de determinados produtos.


** Mensagem enviada pelo Davi, no início das atividades da CSA Lapa/Pompéia, mas especificamente, em 26 de fevereiro de 2017: **

"Olá pessoal!

Bem, todos sabem como está minha vida nesses últimos tempos, por conta da demanda do mestrado, mas está chegando no fim. A questão é que não pude participar mais efetivamente do acolhimento de vocês no CSA.

Bem, a maneira que encontrei, de dentro de um turbilhão, foi escrever algumas impressões minhas sobre o CSA. A respeito disso, não me julgo um conhecedor profundo, ou mesmo tenho experiência para ensinar CSA, mas posso contribuir expressando minhas impressões, e espero que alguma reflexão toque nas dúvidas de vocês.

A questão é mesmo a experiência. Vivência, tempo, são elementos essenciais para compreender o que é praticar CSA.

Vou tentar ser prático.

Nós somos co-produtores de alimentos orgânicos.

Sim, entramos para a agricultura. Daí a importância em nos aproximarmos cada vez mais dos agricultores e da terra onde nossos alimentos estão sendo cultivados. O pessoal que está na lida da terra é quem dá o trampo pesado, mas e nós aqui na cidade? o que podemos fazer?

Outro ponto importante, é que precisamos entender que não se trata de uma lógica comercial tradicional. Estamos construindo um mercado paralelo. Este é um risco, como em qualquer negócio, em que todas as partes assumem um pouco. Então tomamos o risco no investimento na agricultura familiar. Neste sentido fica mais fácil pensar a médio e longo prazo. O que queremos ter em nossas mesas no ano que vem? Vamos pensar juntos? Precisamos entender que para ter tal alimento em casa, ele precisa ser plantado e crescer, demora um pouco as vezes, é o ciclo da terra, normal e milagroso.

Sobre grana:

Quanto vale a sua saúde? a sua felicidade?

difícil heim? Não tem preço.

Me parece que estamos caminhando para entender que esse valor que não se traduz em dinheiro. Mas o que podemos fazer então?

(...)

O objetivo de cada um entender o quanto pode investir na co-produção da nossa comida é chegarmos num ponto onde não precisamos estabelecer cotas e quantidades específicas. Este movimento deve nos levar para um cenário onde o valor que investimos se torna sustentável e equilibrado com a quantidade de alimento que precisamos e escolhemos para nos abastecer, sem a necessidade de estabelecermos cotas. O alimento chega, e já sabemos o quanto nos cabe pagar e consumir (cada um de nós).

Então a ideia é partilharmos da abundância e não da escassez.

Sou médico, pago 50 paus. Sou faxineiro do consultório, pago 50 paus. Será assim?
A questão é, o quanto posso contribuir para construir uma sociedade mais horizontalizada.

Agora em março começa um novo ciclo e eu espero que possamos continuar construindo experiências e aprendizados da prática CSA. Agora é a hora de decidirmos se caminhamos juntos para uma transformação na maneira em que participamos da sociedade pelo CSA.

Vamo se jogá? :)

Por favor, vamos pensar no que queremos comer a médio e longo prazo, e vamos investir nisso juntos. Façam uma lista de alimentos que vocês querem na mesa. Vamos estudar como plantar e quando colher. A Samantha enviou os formulários, o link da vaquinha etc. Quem estiver a fim de continuar a vivência em CSA, precisa ponderar estas coisas, e não somente comparar CSA com feira e supermercado. Somos de certa maneira uma força de resistência. E eu acredito que esse é o caminho para uma vida melhor, menos alienada, com mais criatividade e mais propositiva. A Nara é quem vai me dizer mais para frente. :)

O que eu falei até agora não vem de um manual, vem das minhas observações e do conhecimento que estou adquirindo junto com vocês. Acho que com o tempo vamos evoluir juntos nesta compreensão.

beijos a todos."


** Link para o video que eu assumi como 'ferramenta' para a realização dos encontros de acolhimento que realizei em 2014 e que, hoje, remetem à 2ª geração da CSA SP: https://www.youtube.com/watch?v=5VZj8U4vP3s **


Vou postar algumas outras informações, como comentário.

Peço que vocês façam o mesmo, para que possamos ir construindo uma visão de mundo comum a nós todos - esclarecendo dúvidas e abrindo caminho para a criatividade - de modo a viabilizar a experiência entre a CSA SP e o Sítio Amaranto.

SO

Samantha Orui Mon 24 Apr 2017 3:36PM

Existem diferentes maneiras de abordar a questão do fluxo de caixa e, no atual estado da questão, estamos entretidos com dois aspectos:

1) ** Como reduzir ao máximo nosso 'investimento coletivo compulsório' quando adotamos como estratégia o uso de transferências bancárias entre bancos diferentes. **A famosa taxa de DOC.

Explico: a cada 10 pessoas que realizam um DOC, a quantia que vai para o banco representa uma quantia semelhante a que precisaríamos acessar para pagar contas fixas como telefone, internet, energia, água, etc.

A saber, a CSA SP é um movimento autônomo e não uma empresa, por isso, os cotistas realizam o pagamento direto para os agricultores e, em alguns casos, são os agricultores que realizam os repasses da quantia que arrecadamos para cobrir nossas despesas.

2) ** Como distribuir a responsabilidade pelo registro das operações financeiras realizadas entre os membros e os produtores e reduzir falhas causadas por estornos**, ao mesmo tempo em que se materializa a prática da corresponsabilização financeira.

Explico: se a gente não segue como referência o mercado de commodities e a gente consegue compreender que tem muito mais em jogo do que os alimentos que estão na nossa frente, então, como a gente vai calcular quanto custa um alimento, saindo de uma lógica que pressupõe que 30% do que for colhido, será descartado?

Contexto: desde 2014, eu adoto o seguinte procedimento. Eu envio emails mensais com lembretes sobre a vigência dos contratos. As pessoas me enviam os comprovantes de pagamento. Todos os comprovantes de pagamento são renomeados, de modo a facilitar operações relacionadas à rastreabilidade e aferição de dados, e ficam disponíveis na nuvem, para acesso tanto dos membros, quanto dos agricultores.

A saber: no início de 2017, uma situação nos levou a ter que aferir dados relacionados a todos os pagamentos realizados entre agosto de 2015 e janeiro de 2017, de cerca de 60 contratos. A atividade demorou menos de 8 horas, foi realizado por duas pessoas que não eu, o que validou o procedimento adotado.


** Estamos, agora, aumentando o grau de experimentação em relação a esse tema, junto aos membros da CSA Lapa/Pompéia.**

Estamos testando um fluxo que assume despesas fixas e distribui os membros em missões específicas.

Exemplo: se a conta de luz custa 250 reais, de acordo com o que sabemos que está sendo colhido, dimensionamos quantas pessoas assumem essa missão (*); os responsáveis pela missão, acordam entre si quem realizará o pagamento e como eles se articularão para 'ratear a despesa'. Daí, eles enviam o comprovante de pagamento da conta, que passa a ser o registro contábil oficial, que será armazenado na nuvem, junto ao nome das pessoas que participaram daquela missão.

(*) Reconhecemos nessa ação a possibilidade de gerar as causas e condições para assumir um ponto de referência para o dimensionamento de canteiros e o mapeamento do perfil (hábitos alimentares) das pessoas que compõem uma determinada CSA, em situações em que a produção ainda não supre todas as necessidades nutricionais das famílias e que o ponto de equilíbrio será alcançado apenas quando um ciclo anual completo for concluído. Exemplo: a colheita de berinjela foi menor do que o ideal; os membros são convidados a compartilhar o que tem e registrar o que a quantidade que seria ideal; os agricultores são convidados a fazer anotações em seus cadernos de campo, que promovam a melhoria contínua e/ou o estudo de viabilidade cultivo da berinjela de acordo com sua realidade; feito isso, três meses antes do início do plantio do ano seguintes, membros e agricultores reúnem seus dados e, juntos, mais um vez, se lançam a aventura de semear e podar berinjelas, dentro de um ritmo que garante a quantidade suficiente para todos.

Observação: para evitar as tarifas bancárias entre os membros, será necessário gerar as causas e condições de testar a prototipagem por um período maior de tempo.


Não se trata apenas de cobrir as despesas, mas de começar cuidando delas para que a 'placenta' tenha um fluxo constante de nutrientes; sem o qual, o risco da incerteza, gera distúrbios e ruídos que comprometem a sensação, verdadeira, de compor um todo, que assume a redundância como estratégia de resiliência. Redundância no sentido de que todos temos a capacidade de ficar checando nossos extratos bancários conferindo se o dinheiro está ou não na conta; resiliência, porque nos sentimos encarando de frente os mesmos desafios; desafios que, para alguns, consomem todos os seus recursos materiais e estreitam nossa capacidade de confiar na abundância geradora de toda a vida do planeta.

NC

Natália Cheung Tue 23 May 2017 6:47PM

Olás, chegando agora para por a leitura destes tópicos em dia. Não cheguei a tempo de responder tua questão, Samantha, mas sim, acabo de ler o que escreveu sobre a diferença entre a prática da CSA e os grupos de compra coletiva. Achei a resposta esclarecedora.